Tocar numa banda de Rock, para muitos, é coisa de vagabundo, drogado, burro, louco varrido, filho de Satã e muitos outros adjetivos maldosos criados pela mente humana. O Rock (aquele mesmo, de guitarra, bateria e baixo) há muito é visto assim, de uma maneira meio deturpada, incompreendida e preconceituosa. Quantas vezes você já não deve ter ouvido as pessoas cochichando piadinhas infames recheadas de adjetivos exdrúxulos e risadinhas esganiçadas?
Agora, imagine o que minha mãe deve ter pensado quando eu disse para ela que ia deixar o cabelo crescer e tocar em uma banda de Rock era tudo o que eu queria fazer da vida. Foi um tanto quanto estranho - assustador até - eu diria. Não que ela não me apoiasse, mais no inicio ela repudiou a idéia como muitas mães fazem, mas no fim ela acabou entendendo que aquilo faria parte do ciclo natural das coisas. Que me ajudaria a entender o mundo a minha volta e tal. E eu não sabia nada do que eu queria. Mas mesmo assim, ela entendeu tudo o que eu desejava, e comprou um violão (muito ruim, por sinal, mas eu adorava ele) para mim e eu comecei a me fissurar em tocar violão e aprender tudo o que eu curtia e mostrar para meu parceiro de banda hoje (que até então só sabíamos DO, RÉ, MI, LA) e vice-versa. Foram uns anos bem legais, demoramos muito para aprender mais do que quatro acordes, foi um tempo muito divertido...
E foi aí que começamos a criar as primeiras canções, meio infantis e caóticas...Mas não deixavam de ser...Canções.
E o Rock é isso mesmo, meio aos trancos e barrancos, no início, com chiadeira e desafinação e com muita vontade acabamos vivendo da essência dele, do ritmo dele. E pelo que eu me lembre, nunca fui vagabundo, nunca fui um drogado (sempre repudiei drogas ilícitas) nunca fui louco (só um pouquinho) e muito menos venerei satã...Simplesmente fui um adolescente normal com alguns porres, muitas carteiras de cigarros fumadas, uns micos e umas loucuras que só pessoas de 15, 16 anos fazem, nada mais. E, de certa forma, a musica sempre me fascinou com seus embalos, gritos e melodias. Desde quando minha mãe escutava Raul Seixas quando eu era pequeno e eu lá, do lado dela, todo empolgado com aqueles brados de Sociedade Alternativa que eu ouvia com os chiados característicos de um vinil. Ás vezes eu penso que minha mãe é a culpada disso tudo (rs). Mas hoje em dia eu não me veria longe disso, da adrenalina antes de um show, das correrias para ensaiar, das brigas para se acertar com os outros integrantes da banda, principalmente se o tempo sem tocar é grande. Pois muitas vezes me bateu aquela dúvida se tudo o que eu andava fazendo era certo para mim mesmo, se ia ser bom em um futuro distante, se ia ser bom para a constituição de uma vida. E a resposta é: Foda-se, o negócio é viver desse presente e intensamente.
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Se alguém, algum dia, pretende montar uma banda de Rock, Pagode, Axé, Musica Clássica, ou qualquer outra coisa que faça barulho, aí vai um incentivo: Não importa quantos irão ouvir seu show, se 5 ou 500, se 2 ou 200, não importa, a sensação de estar em um palco apresentando aquilo que você sabe que está bom é indescritível, é maravilhoso. E é claro, o melhor de tudo é o reconhecimento pelo seu trabalho, que sempre vem por meio dessas poucas pessoas que comparecem ao seu show. E o Lobão ta aí para provar isso. Hoje o show dele não desce das faixa dos trinta, quarenta ou cinqüenta reais e a casa é lotada. Fez um cd no formato acústico pela MTV e virou um ícone pop. Há cinco anos atrás, pouquíssimos sabiam da existência dele, e ele mesmo vendia seus cds em uma praça, numa banca de camelô, imagine agora se alguma casa lotava com ele no palco. Quer um exemplo maior de sucesso e reconhecimento do que o do Lobão hoje em dia? Todos podem, e se tiverem determinação o suficiente, vão fazer sucesso um dia.
Minha primeira banda foi um amontoado de caras que não sabiam nada, mas que adoravam aquilo que estavam fazendo. Ela se chamava Los Cobaias e foi uma experiência única para mim. Por um longo tempo ela foi minha razão de profissão, de divertimento e de compromisso. Mas não foi bem assim, infelizmente, paramos em nosso auge (tínhamos feito programa de rádio, tocado o nosso melhor show, e estávamos preparando a demo da banda, para nós isso era o auge), mas por causa do baterista que entrou em crise e virou pagodeiro, abandonamos a banda. Até tentamos outros caras, mas nada se encaixava com nossas diretrizes de trabalho. Foi um longo ano e meio para arranjarmos outra pessoa que se encaixasse na nossa muvuca. E, me diz ai: qual banda não passou por situações semelhantes?
Isso faz parte de nosso cotidiano musical, se não passarmos por isso hoje, mais cedo ou mais tarde vai acontecer. Tem sempre alguém que larga tudo por causa de uma mulher, ou por um emprego, ou por causa de drogas, porque engravidou aquela guria que tava saindo, ou simplesmente porque ta de saco cheio e quer dedicar a vida a fazer coisas que ele acha ser melhor. E é sempre quando a banda ta chegando no auge. Foi assim com os Beatles, antes de entrar o Ringo. E olha o que os Beatles são hoje... Mas hoje me mantenho na musica, escrevendo sobre, e ensaiando bastante ainda, mas mais por uma grande paixão do que por compromisso sério, afinal, nada mais prazeroso o que chegar do stress do trabalho no ensaio e rasgar o Rock’n Roll até altas horas...
ARREVOÁ
[*|TPS
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